Madrugada

São 03:13 da madrugada.
Não consigo dormir.
Apetece-me falar, gritar, interagir com algo.
A mãe está a dormir.
Estou sozinha debaixo de um mini-candeeiro a tentar "escrevinhar" qualquer coisa que faça sentido e me deixe mais leve.
Nada.
À minha volta...fotografias, uma cama com almofadas, paredes.
Não, ele não está. Ainda bem.
Apetecia-me ter um bebé. Só para poder olhá-lo e dar-lhe beijinhos enquanto dormia.
Acho que vou ser a melhor mãe do mundo.
São 03:31 da madrugada.
Ainda não tenho sono.
Amanhã tenho aulas.
Apetece-me ir embora daqui para fora. Viajar.
Eu vou viajar, mas ainda falta algum tempo, e ainda por cima o bilhete também é de volta.
Por segundos penso nele. Parece que está aqui a observar-me.
Não, ele não está. Ainda bem.
Gostava que a minha vida andasse 1 ano para trás e ficasse em "pause".
De certeza que agora eu já estava a dormir e a ter sonhos cor de rosa.
Lembro-me bem. O entusiasmo. Agora não. A monotonia. Eu não. Ele.
São 03:39 da madrugada.
A senhora canta uma linda música, mas não percebo a letra. Talvez ajudasse. É linda, mas não a percebo.
Penso nas pessoas, talvez à procura de inspiração.
Por segundos volto a pensar nele. Não.
Esta música é daquelas que eu gosto, vai crescendo e quase choro quando está no auge.
É ópera. E eu não gosto de ópera.
Está no "repeat".
Sinto-me inútil. Completamente inútil.
Sinto-me cansada. Fraca. Doente.
Estou quase na "fase marionete"...se me largarem estatelo-me no chão. Acho que estou por um fio. Já muito fininho.
São 03:52 da madrugada.
Não tenho qualquer indício de bocejo ou sonolência.
Estou com uma insónia horrível e não me consigo safar.
Preciso de pessoas. De abraços. De festas. Preciso de pessoas que não precisem de me ouvir. Daquelas que olham para mim e entendem o turbilhão. Daquelas que não se importam de passar a noite a olhar para mim e a sorrir. Mas um sorriso quente, doce. E festinhas na mão. E abraços.
São 03:58 da madrugada.
Quero chorar.
Depois vou dormir.